segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O direito do próximo.


- Qual o problema Marina?
-Nada! Tudo bem. – Tentei sorrir, mas falhei miseravelmente. Eu sabia que ela não era culpada, que poucas pessoas ali eram culpadas, mas fazer o que? Aquilo estava me consumindo!
- Tem certeza?
- Claro que sim! Está tudo ótimo. Tenho varias pessoas falsas ao meu redor, que nunca sabem qual o limite entre liberdade e libertinagem!
- Então é isso o que está te incomodando?
E se ela quisesse saber? Seria certa despejar meus sentimentos em cima dela? Por que não? Afinal de contas, todos despejam seus problemas em mim.
- Estou farta! Farta de pessoas que mentem e fingem ser o que não são! Farta de ter que sorrir e aturar o que não aguento mais! Farta de ter que abraçar e beijar alguém que não considero desta forma e acima de tudo... Estou farta de fingir gostar de quem odeio e ter que reprimir meus impulsos para que as pessoas não me chamem de selvagem!
- Eu... Eu não sei o que falar!
- Então não fale nada! Aprendi que muitas pessoas preferem ficar caladas e sucumbir a essa sociedade mesquinha e ridícula do que falar a verdade e ir contra os limites estabelecidos!
- E o que você quer dizer com isso?
- Que você é fraca, assim como eu. Mas diferente de mim, a sua chama está apagada e o fogo que deveria arder e te manter viva, apenas queima os outros com essas redes de mentiras inúteis!
- Então talvez você deva se afastar de mim!
- Eu vou! Pode ter certeza, mas saiba de uma coisa... Antes de ir, eu pego tudo o que é meu!
- Isso é uma ameaça?
- Não, longe de mim fazer isto! Estou apenas te falando o que vai acontecer.

Apanhadores de sonhos.


                                                                           
- Diga qual é a pior sensação?
- Estar vivo e se sentir morto.
-Então porque você continua?
- Não importa o quanto às coisas estão ruins, se você perder a esperança, ai sim estará morto.
Florence se afastou daquelas perguntas idiotas, pois não queria demonstrar o quanto sua fé estava abalada. Sua fé nas pessoas estava se esvaindo, sua fé em si mesma era quase nula e o sentido de continuar era obscuro.
Da sacada onde estava a lua cheia e resplandecente brilhava imponente e linda, sempre que a via sabia que não podia desistir, teimava em respirar e tentar ser melhor.
Por vezes era capacho dos outros e ate mesmo de si, não era escolhida e não revogava seu direito e talvez todo aquele mal- estar era causado por ela mesma.
- Sim filha, você está certa, nesta vida, tudo o que recebemos é aquilo que damos!
- Quem está ai?
- Já não reconhece sua própria mãe?
- Oh Deusa! – Sentiu os cabelos da nuca se eriçarem, acreditava que nunca viveria para ver sua Deusa em pessoa, mas lá estava ela. Hécate, com seu manto negro e acompanhada por dois lindo lobos selvagens.
- Sim minha filha, tenho escutado suas lamuria e estou aqui para avisa-la, não se deixe levar pelas armadilhas dos apanhadores de sonhos, sei que tudo parecer desmoronar, mas se tiver fé em si e em mim, sempre estarei te protegendo e amando.
- Mas e se isso não for o suficiente?
- Florence, o amor é sempre suficiente.
- Mas nem sempre ele consegue nos sustentar.
- Então não era amor. Sei de uma coisa, a falta de amor é mil vezes pior que um amor não correspondido, pois amores infindáveis são paixões e estas são fracas e se vão com o tempo.
- O que exatamente você quer dizer?!
- Exatamente o que estou dizendo. Nunca perca as esperanças, por pior que tudo esteja!
- E quão ruim fica?
- Apenas o quanto você pode superar.  Nunca damos um fardo mais pesado do que nossos filhos podem carregar.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Enluarada.

- Estou sendo consumida por isso! – gritei exasperada, mas não havia ninguém par me responder. Eu estava sozinha... Sempre sozinha.
- Minha culpa, eu sei que sim! – Todas as minhas escolhas havia me levado ate ali, o que eu poderia fazer agora? Creio que nada.
- Estúpida, ignorante!- Andei ate a janela e deixei a luz da lua enluarar-me, eu não queira ter feito aquela escolha difícil, mas em toda a minha vida eu nunca acabei as coisas, seria a vida a coisa certa para terminar?
Eu tive milhões de projetos, sonhos e vontades... Algumas estão iniciadas, outras não passam de rascunho no papel.
- Helena... Helena, garota bobinha de cabelo loirinho, pele branquinha, cabeça oquinha. – Ri da antiga frase que mamãe costumava falar, sempre gostei das rimas, gostava tento que nunca liguei para a cabeça oca.
Uma brisa quente entrou no quarto e fez meu vestido de seda azul balançar, eu já estava tonto... Acho que é o fim da vida fazendo efeito. Está difícil escrever, mas mesmo assim continuo. Todos merecem saber qual foi minha desgraça e digo paixão: não morri por homens, dinheiro ou tristeza, estou morrendo por mim. Simples assim, complicado assim.
Não tenho frases filosófica para te oferecer, não tenho lagrimas para chorar nem dores para reclamar. Eu sou tudo aquilo que não queria ser: sou o vazio na multidão, o escuro no claro a tristeza na alegria, mas também sou o contrário... Uma controvérsia quem sabe?
Eu não sei, e decidi ir embora assim: Sendo menos do que poderia ser, um pouco mais que o esperado, sozinha e nua. Deixei o lindo vestido no chão e fui banhada pelo calor do verão, fui para a cama e estou quase me tornando àquela boneca de cera, fria e imóvel.
E você vai ficar aqui, apoiado em meus seios, aberto... Escancarado, revelando a morte que foi feita pela vida.


quarta-feira, 25 de julho de 2012

O medo.

Ela tinha medo, tanto medo que tinha medo por ter medo. Andava olhando para os lados e depois olhava para o chão, pois tinha medo que o que estava ao seu lado descobrisse sua presença. Dizia a si mesma que deixaria esses medos de lado, sairia de seu quarto bem iluminado e andaria na escuridão da noite, todos os dias ela si dizia isso.
Estava sempre tão preocupada em ser surpreendida e ter medo que passava pela vida como um nada, apenas perdida e mesmo assim não queria ser encontrada. Mas sem querer, já era noite e ela estava longe de seu casulo protetor, o que faria? Suas pernas andavam mais rápido, o coração palpitava dentro do peito, o gosto de sal e ferro preenchia sua boca. Agora ela sabia o que era realmente sentir medo.
- Bárbara! Fique calma filha. – Fingiu não escutar, afinal de contas quantas coisas mirabolantes uma mente em pânico pode criar?! Continuou andando, mas quando uma mulher parou em sua frente ela não teve como escapar.
- Não vou te machucar filha.
- Espero que não machuque.
- Você foge de mim há muito tempo. – Os cabelos vermelhos lutavam contra o vento, o corpo feminino e forte fazia Bárbara se lembrar das amazonas das histórias de sua avó. – Sou Dakini e como eu, chegou sua vez de correr com os lobos e se libertar.
- Sinto muito, mas você deve estar me confundindo com alguém, como pode ver, não estou presa.
- Como não? Faz o que as pessoas acham ser o correto, é manipulada por essa sociedade que cala as mulheres corajosas, mantem impune os corruptos e sacia com medo a grande maldição que tem assolado a humanidade. – Dakini sabia que Bárbara era apenas uma garotinha, mas suas seguidoras não podiam ser fracas.
- Talvez... Talvez você esteja certa.
- Você que eu estou minha filha. – Dakini se aproximou de sua criança medrosa e deu-lhe um beijo carinhoso no topo da cabeça. – Abençoada seja.
Uma brisa varreu Bárbara, mas não era apenas o vento, era sua alma de mulher voltando. Aquela alma que fica esquecida em meio aos problemas do dia a dia, aquela alma que faz uma mulher mais forte. O medo já não era tão importante, na verdade o medo era algo preciso, pois com ele ela ia mais longe, sempre quebrando barreiras.
Bárbara sabia que Dakini sempre estaria ali quando precisasse, mas o mais importante já havia sido feito; agora Bárbara não era apenas uma garota boba e medrosa, era uma mulher que corria com os lobos.  As sombras tocaram-lhe o rosto, com seus dedos de veludo. E a menina veio a gostar das sombras. E o medo que existia passou. 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Sorrisos escarnecidos não me convencem!


Sorrisos escarnecidos não me convencem, prefiro muito mais um palavrão espontâneo a suas desculpa tão falsas quanto uma nota de R$25,00.
Acha que continuar com esse vício mórbido de perseguir o seu rabo – isso mesmo, estou te comparando a um cachorro – vai te levar a algum lugar?   Sua vida  não passa disso, um giro de 360° que sempre  te trás para a mesma merda.
Eu acostumada a ser seu brinquedo favorito,  mas descobri  que ser o brinquedo favorito de alguém é pior que ser apenas um  brinquedo.
Agora, pela primeira vez, eu possuo a chave para a liberdade, cansei de ficar de joelhos por você. Eu nunca quis dizer “adeus”, mas você só sabia dizer “eu”.
Eu sei, vai ser difícil, mas do mesmo jeito que fiz da primeira vez, vou aprender a andar e falar, ate que eu esteja  boa o suficiente para juntar todas as palavras bonitinhas  e mandar você ir para a casa do caralho!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Príncipe Encantado.

Esperei ansiosa que ele chegasse logo, mas aquela demora colocava meus nervos a flor da pele. E se ele não viesse? Eu ficaria ali, plantada como uma bananeira.
- Estou aqui atrás. Venha ate aqui. - Disse Daniel com sua voz máscula e adulta. Eu, em meus humildes dezessete anos, me assustei e de pronto atendi ao pedido.
- Achei que não viria. – Disse.
- Nunca falho em meus compromissos Carolina! – O cabelo negro dele, balançou ou redor de seu rosto quando uma brisa marota passou por nós. Tentei me convencer que tudo o que eu sentia não era apenas atração por aquela pele tão bonita, pelo cabelo preto como a noite e pelo sorriso inigualável.
- Ainda bem! – Sorri timidamente e esperei que ele se aproximasse, apesar de ser quase vinte anos mais velho que eu ele era tentador, não sei dizer se era a idade ou a beleza exótica, mas existia algo nele que sempre me empurrava para mais perto.
Ele me puxou para um abraço forte e quando seus lábios tocaram os meus, me senti liquefazer, eu já não era Carolina, agora era uma parte de Daniel, uma parte profunda e quase animalesca; uma parte que possuía desejos intensos.
- Diga que será minha!
- Sua!
- Então vamos... - Ele se afastou o suficiente para que eu visse seus olhos castanhos me observando. - Vamos para um lugar onde você possa ser minha.
Senti minhas pernas bambearem, apesar de saber muito bem o que estava fazendo não esperava um convite como aquele logo de cara, eu não sabia o que responder, uma luta interna era travada dentro de mim. Se eu respondesse não ele, provavelmente, não iria me querer mais, mas se eu fosse iria contra todos os meus princípios.
- Acho melhor não... – Tentei parecer segura de minha decisão, mas percebi que começar a frase com “Acho” não foi uma boa escolha.
- Então estou aqui perdendo o meu tempo?! – Disse ele indignado. Subitamente uma raiva ferrenha se apoderou de meu corpo, era quase irreal que o homem dos meus sonhos estivesse falando algo como aquilo. Respirei fundo três vezes, o que não adiantou de nada. Um príncipe encantado não era feito de beleza, mas sim de atos, aquela era uma lição que ele iria aprender!
- Se você acha que não fazer sexo no primeiro encontro é perda de tempo, talvez seja melhor você procurar companheiras que se habilitam a fazer isso, mas quando você decide sair com uma mulher de verdade, independente da idade, não presuma que elas vão ficar encantadas por sua beleza e realizar todos os seus desejos, mulheres são verdadeiras, ambiciosas, criativas e por si só são completas. Talvez eu com dezessete anos seja mais madura que você. Passe bem e tenha certeza, caras bonitinhos não ganham o coração de uma mulher!

Paixão.

- Paixão... Resoluta, febril, complicada, curta e eterna, daquele tipo que nos faz esquecer tudo ao redor com apenas um olhar.
- Acho que está a delirar, querida irmã.
- Não irmão, és tu que não entendes. Imagine querer alguém com a força de cem oceanos, estar disposto a viver mil vidas com a mesma pessoa.
- Ninguém vive mil vidas...
Por mais que Alma tentasse esclarecer um pouco sobre paixão para o irmão, ele não entendia. Preferia acreditar na realidade que estava ao seu redor, àquela realidade que a igreja do século XV dizia ser a correta.
- Por ele eu viveria mais de mil vidas. – Terminou de arrumar seu casaco e colocou o capuz sobre a cabeça, estava pronta para encontrá-lo, aquela seria a noite mais especial, ela se entregaria para ele.
- Não esperes por mim querido irmão!
Passou despercebida pela casa, ele estava esperando-a na porta dos fundos, o vestido azul contrastava com a escuridão que a cercava.
- Senti sua falta. – Sussurrou ela, indo ao encontro dele.
- Eu sei minha pequena. – Ele tinha todo o controle sobre ela e usava deste poder de sedução. Levou-a até o salgueiro, naquela noite ele iria desfrutar de tudo o que ela tivesse para oferecer.
- Espero que entenda o risco.
- Não me importo.
- Se este é o destino que queres... – Ele tentava, sempre tentava. Mas elas nunca escutavam. – Me beije.
Antes que pudesse se controlar, Alma se atirou nos braços dele. A atração que ele exercia era mais forte que os ventos do oeste, mas algo estranho estava acontecendo... Ela se sentia franca, como se sua energia vital estivesse sendo sugada naquele beijo.
- E com um beijo tiro-lhe a vida. – Ele acariciou o cabelo negro dela, uma garota bonita que agora estava morta.
- Garotas... Sempre procurando por seu príncipe encantado, iludidas pelo amor eterno, seduzidas pela beleza. Ingênuas, mas que propiciam uma boa refeição!